Papillon de Franklin J. Shaffner é um clássico praticamente intocável. As atuações de Steve McQueen, Dustin Hoffman e o texto de Dalton Trumbo dão à obra um caráter diferenciado, resultando num filme que mostra grandes performances e uma mensagem nas entrelinhas muito forte. Quando anunciaram uma nova versão do livro de Henri Charrière, com Charlie Hunnam vivendo o personagem-título, muito se temeu. Bem, o temor não se deu à toa.
Este novo Papillon é conduzido por Michael Noer, e mostra Hunnam como um saqueador de diamantes acusado de assassinato. Nesta versão, o ocorrido não é dito, mas mostrado em tela, o que poderia ser algo positivo, mas que aqui soa ofensivo de tão expositivo. Tal qual o material literário, conhecemos o flagelo dos presos que são levados até a Guiana Francesa como prisioneiros da França, e Papi (sim, as pessoas o chamam assim) conhece Dega (Rami Malek), um rico falsário rico bastante frágil fisicamente. Em prol de uma fuga, surge um acordo, onde o mais forte protegeria o mais fraco, enquanto caberia ao outro os custos da empreitada.
Noer tenta fazer uma história diferente do clássico setentista, e a atmosfera é claramente diferente. A ideia do filme não é fazer um comentário político como foi o seu antecessor. Se prosseguisse somente nesse toada, o saldo poderia ser positivo, mas em alguns pontos tenta-se reformular cenas clássicas, e na maior parte delas o esforço soa fútil demais.
Ao menos, Hunnam tem um bom desempenho. Nos primórdios de Sons of Anarchy o ator foi bastante criticado por parecer inexpressivo, mas ao poucos melhorou e por ser esse um produto de época, a associação com Rei Arthur: A Lenda da Espada é quase automática, em especial pelas primeira cenas, mas logo seu desempenho faz melhorar a sensação de vê-lo em tela. Malek também tem um desempenho razoável, o grande problema se dá no roteiro de Aaron Guzikowski, que produz poucos momentos de inteiração onde o espectador consiga realmente se importar com o que ocorre com os prisioneiros, mesmo com todo o sofrimento existente naqueles que tem sua liberdade privada. Incrivelmente, um filme de mais de quarenta anos consegue estabelecer um visual muito mais crível com a realidade de prisioneiros em condições desumanas do que esta produção, onde tudo é limpo demais e sem identidade.
Os últimos momentos tem uma brilho um pouco maior, visto que as partes que mostram o protagonista vivendo na solitária servem para Charlie Hunnam justificar o alto cachê que recebeu, mas o sentimentalismo barato e sensacionalista acaba jogando tudo para o alto. A direção de Noer tem seus momentos, mas o roteiro entregue não parece ter colaborado com o seu trabalho.
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Antes Que Eu Me Esqueça é um drama familiar, envolvendo o senhor Polidoro, ex-juiz de 80 anos que é encarado por uma das filhas como senil e incapaz de gerir a própria fortuna. Essa possível herdeira entra com um processo de interdição, para conseguir os espólios antes de sua morte, no entanto, a lei exige que seu outro filho, Paulo, testifique a favor da irmã, e assim, pai e filho têm de travar contato novamente, assistido é claro por uma testemunha, a advogada Maria Pia (Mariana Lima).
José de Abreu e Danton Mello vivem uma relação bastante conflituosa como pai e filho e isso é mostrado em tela, com uma forte tensão entre os dois, visível mesmo sem que ambos verbalizem o incômodo que um faz ao outro. Ao menos nesse começo eles são distantes, e se comunicam por conveniência clara, com o pai querendo provar que está saudável e o filho querendo utilizar o piano para ensaiar para o teste de uma orquestra.
A riqueza da trama certamente são os cenários pouco usuais para uma história que tem a trilha de um piano de calda clássico como principal mote. A música de Paulo em nada combina com o ambiente salutar da casa Poligamia – ou Polygamus, segundo o letreiro novo em latim – casa de tolerância que veio a se tornar uma “casa de danças”, depois que o juiz decide virar sócio dessa boate.
Os últimos momentos do filme tem uma queda de qualidade, inclusive incorrendo em um certo melodrama, proveniente da relação tardia entre os personagens que no começo da trajetória, estavam separados e finalmente se entendem, ainda assim, o conjunto de personagens periféricos funcionam muito bem, por mais caricato que Guta Stresser, Dedé Santana e outros intérpretes exercem, tornando esse Antes Que Eu Me Esqueça um filme bastante terno e interessante.
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O filme de Gabriel Di Giacomo utiliza como ponto inicial de seu filme, Marcha Cega, a figura de Sergio Silva, um fotógrafo que ficou cego após um tiro da truculenta Polícia Militar de SP em meio a uma manifestação política que ele cobria. Antes mesmo de mostrar isso, há cenas da polícia desfilando, cantando o hino da Independência do Brasil e a promessa de proteger os entes do povo. Não foi o caso de Sergio, que perdeu o sentido que fazia sua profissão ser útil.
Os depoimentos de manifestantes políticos que foram (e são) perseguidos, os intelectuais e ex-membros políticos de secretárias de segurança falam sob um cenário negro, remetendo a obscuridade desses processos e da cegueira propriamente dita. A transição da maior parte das cenas é composta por uma tela preta que fica por alguns instantes, e isso normalmente é um recurso ruim quando usado em documentários, aqui há função narrativa, seja por imitar a perda da visão, no caso de Sergio, seja pela conversa que tem com os muitos casos de pessoas que tiveram seus olhos alvejados em trocas de tiro, seja de borracha ou mesmo os projéteis metálicos.
As falas denunciam os atos de abuso de autoridade, unido a algumas cenas onde descrições dos manuais das polícias, como coibir manifestantes e agir com a violência é bastante comum. O argumento da maior parte dos entrevistados é que a mídia alternativa é importante, pois sem ela a pauta dos grandes veículos de imprensa ocorreria basicamente culpando ao atos de protesto como mera oportunidade de vandalizar os bens públicos e espaços urbanos. Os veículos que mostram o povo apanhando são os que fazem com que as TVs e a grande imprensa passem a tratar o sujeito comum como vítima da ação truculenta do Estado, mostrando afinal que a violência normalmente vem de cima.
Ao final de Marcha Cega, aparecem letreiros que anunciam a tentativa de contato com as assessorias de Alexandre Moraes – ex-secretário de segurança e atualmente ministro do STF -, Geraldo Alckmin – governador de São Paulo à época -, e a direção de núcleos das polícias citadas ao longo dos 88 minutos de corte do documentário, e todos foram ignorados, alguns de maneira mais veemente outros de forma polida. A oportunidade de fala oficial foi dada e simplesmente ignorada, e a ironia mora aí, pois essa é a atitude normalmente utilizada pelas autoridades, que ignoram sumariamente os pedidos e exigências do povo, só respondendo quando lhe é conveniente.
Os Incontestáveis, filme de Alexandre Serafini e escrito por Saulo Ribeiro, traz a história de dois irmãos, Belmont (Fabio Mozine) e Mauricio (Will Just), que viajam pelas estradas do Espírito Santo em busca de um Maverick que já propriedade do pai dos dois. Road movie que valoriza carros antigos, começando pelo Opala 73 amarelo que os irmão dirigem ao percorrer as estradas capixabas, entre tantos outros.
Com o decorrer da história, os dois personagens se misturam à paisagem e obviamente as tramas pessoais das pessoas que eles encontram pela estrada. A partir daí começa uma troca de vivências e sentimentos muito intensa, pontuada pelos cenários áridos do interior do Espírito Santo e por uma ou outra participação especial de atores famosos, como Tonico Pereira.
Os Incontestáveis parece beber muito da fonte de outros road movies nacionais recentes, como Dromedário no Asfalto, de Gilson Vargas. A grande questão é que o roteiro até toca em assuntos espinhosos, como a exploração sexual de prostitutas, mas pouco se aprofunda nesses temas, como também pouco trabalha nos dramas dos personagens apresentados. Claramente não há muita mensagem aqui, só fórmula, sem muito conteúdo.
O filme todo foi construído para a cena final, quando finalmente o Maverick aparece. A sequência é bem fotografada, com cenários e elementos cênicos bem encaixados e uma trilha rock and roll que embala o momento. Talvez se esse fosse um curta, funcionaria bem, mas como filme, simplesmente não encaixa, uma vez que o caráter desse ponto é completamente diferente do restante da trama, parecendo no final que há dois produtos forçosamente reunidos como um só.
Produção franco-belga, O Retorno do Herói é um filme de Laurent Tirard, ambiente nos anos 1800, e foca na relação do Capitão Neuville, vivido por Jean Dujardin, de O Artista. O homem, farsesco e covarde promete desposar uma moça bastante nova chamada Pauline (Noémie Merlant), vinda de uma família interiorana, os Beaugrand. Ocorre que, Neuville é chamado a guerra. Ao ver sua irmã deprimida, sem sair da cama e incapaz até de comer, Elisabethe (Melanie Laurent) decide escrever cartas que seriam do tal capitão, para alimentar as esperanças da irmã, por pena, o problema é que a mentira vai se avolumando a níveis jamais imaginados.
Aos poucos, Neuville passou a ser conhecido por feitos absurdos e heroicos que as cartas descreviam e a mentira passou a circular como verdade via boato, e “viralizou” através da fofoca. Ela não seria descoberta, se não fosse o caso de Neuville reaparecer, muito diferente um tempo depois, como um desertor, decadente, com uma barba horrível e aparência de maltrapilho.
A veia cômica funciona muito bem quando é Laurent que comanda a comédia, Dujardin não compõe um personagem tão engraçado, apesar de fingir muito bem todo o glamour que foi descrito nas cartas, mesmo sem saber exatamente do que se trata exatamente toda boataria. O roteiro de Tirard e Grégoire Vigneron busca por soluções bastante óbvias, quase todas as reações são previsíveis, como se tivesse um aviso de uns cinco minutos antes delas acontecerem, especialmente nos embates morais que Neuville e Elisabethe trocam. Mesmo a afeição que começa a se desenrolar dali é aparente desde o retorno do personagem masculino.
Toda a ópera construída por Elisabethe acaba por ser desbaratada em determinado momento, depois de uma série de eventos que demonstram o quão retrograda era a época. O filme de aproximadamente 90 minutos, ganha um tom mais sério e dramático perto de seu desfecho, distante da ideia anterior de ser uma paródia dos dramalhões de guerra antigos sobre as guerras na Europa, se aproximando das comédias francesas dos últimos tempos. A sensação ao final de O Retorno do Herói é que o filme não teve maturidade suficiente para decidir o que seria de verdade, pois acerta um pouco no que tange ao humor e quase nada em relação a questão da guerra ou do romance que procura construir a seguir.
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Parceria na direção entre Cavi Borges e atriz Patricia Niedermeier, Salto no Vazio é um registro cinematográfico que faz vezes de ensaio fílmico, começando com cenas de extrema intimidade entre os diretores. A primeira cena de fato é a de um beijo entre os apaixonados, acompanhado de uma poesia, dita em off pela própria Patricia, onde se nota muita paixão em sua voz.
As viagens do casal de artistas servem como cenário para as falas de amor entre eles, pontuadas pela voz e/ou pelas imagens de Patricia se declarando de corpo e alma para o amor que promete ao seu par. É incrível como a forma e as falas do filme são simples e belas, combinando de uma maneira que só faria sentido realmente para a platéia que já desfrutou de um sentimento tão terno e puro quanto é o amor e a paixão.
As partes mais acertadas são as recitadas por Niedermeier e pelo ator Alexandre Varella, e incrivelmente o filme tem um ritmo muito bom, não fica enfadonho ou desinteressante, ao contrário, o espectador se sente preso a história mostrada nos pouco mais de 60 minutos desta obra.
Salto no Vazio tem um início um pouco superior ao seu final, mas consegue atingir um patamar de obra poética poucas vezes em filmes tão herméticos quanto o subgênero de filmes ensaísticos. É o capítulo um da Trilogia Filmes de Viagem mas independente de ser parte de uma série de longas ele funciona muito bem como obra solo, sendo bastante autossuficiente dentro da ideia de romantizar a saudade e a falta que um par faz ao outro.
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Do começo sem falas, apenas com um tema musical melancólico passado por uma voz rouca cantando, Mandy, do canadense Panos Cosmatos, abre sua história de forma poética, mostrando cenas que variam entre planos que contemplam a paisagem do Noroeste Pacífico sendo cortada por alguns homens e detalhes em pinturas e gravuras de animais selvagens.
Red Miller e Mandy Bloom têm uma vida em casal bastante simples e terna. Nicolas Cage e Andrea Riseborough demonstram uma afinidade muito grande enquanto par e o seu amor é observado por uma utilização contínua de cores luminescentes, variando entre tons de vermelho, rosa e lilás. É como se os apaixonados tivessem suas vidas iluminadas por luzes de faróis, por objetos mecânicos tão simples mas que conseguem produzir um lindo efeito visual emulando assim as características da rotina de ambos, que passam seus dias no campo de maneira pacata, observando um ao outro com a admiração típica de jovens casais. Seus dias são embalados por um trilha repleta de sintetizadores, conduzidos na música de Johann Johannsson, que embala a espera dos personagens por uma tragédia que se aproxima.
O desenrolar da historia de Cosmatos é lenta, os detalhes são mostrados gradualmente, e ao público resta aguardar a chegada dos acontecimentos atrozes que virão, onde a crueldade imperará escondida através de um discurso crente em uma entidade maior. Em alguns momentos, um letreiro vermelho salta a tela um dos temas musicais Children of The New Dawn, sem explicação alguma, simplesmente ocorre.
O culto liderado por Jeremiah Sand (Linus Roache) não tem suas origens e intenções explicitadas. Tudo o que se sabe sobre seu modo de operar é o que aparece em tela, sem qualquer preparação prévia ou explicação sobre os métodos. O que se assiste é um conjunto de ritos que lembram as descrições de ritos de magia negra mas com detalhes semelhantes aos que os católicos utilizavam no cuidado as “bruxas” durante à época da inquisição.
Há uma clara influência do cinema de Ken Russell na obra, seja no niilismo pautado na fantasia sádica dos detratores de Red e sua amada, bem como no modo de contar a história grave por meio de belas imagens. Mesmo quando o personagem de Cage consegue fugir do cativeiro onde estava para então urrar de desespero pelo que viu há um tom poético, um registro naturalista de um homem sofrendo, coberto com seu próprio sangue, se valendo de bebidas alcoólicas fortes para se anestesiar não de uma dor física, mas sim de dores na alma.
Apesar de não ser uma peça teatral, Mandy tem sua história dividida por atos, e o terceiro deles é bem diferente, com uma violência mais explícita, onde a vingança de Red finalmente ocorre e onde os pecados dos malfeitores têm sua retribuição justa. Esse período destoa um pouco do restante da atmosfera idílica do filme.
O acerto de contas do personagem com o líder da seita consegue reunir os dois tipos de caráter do filme, tanto o sanguinolento quanto o que dá vazão a uma linguagem mais hermética e rebuscada. Apesar de o desfecho não ser tão bem construído quanto o início e o fim, toda a jornada acompanhada no filme de Cosmatos é uma experiência única, em um retorno de Cage aos papéis sensíveis que o fez ser premiado nos anos noventa, unindo também a violência que fazia nos filmes de ação que protagonizava, claro, com uma agressividade muito mais visceral neste. Ao final se percebe que a dor da perda e a ilusão andam juntas no imaginário do homem que não tem mais nada e poucas vezes esse sentimento foi tão bem retratado em tela como aqui.
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Boa parte dos cineastas cuja filmografia é rebelde vez ou outra cede aos gracejos de Hollywood e aceita fazer um filme comercial e convencional. Os maiores sucessos em bilheteria de Robert Rodriguez são da franquia Pequenos Espiões, mesmo David F. Sanbderg decidiu aceitar adaptar Shazam para o cinema, e em O Mistério do Relógio na Parede o diretor Eli Roth parece ter cedido, ao adaptar o livro de John Bellairs, que mostra a história do pequeno Lewis Barnavelt (Owen Vaccaro), um menino recém órfão, que vai morar com seu tio, um homem bastante peculiar.
A casa de Jonathan Barnavel (Jack Black) é visivelmente diferente de todas as outras da cidade de Zebedeee, e a comunidade em volta considera o lugar mal assombrado, graças a um acontecimento misterioso do passado, além de obviamente todos acharem Jonathan estranho e excêntrico graças ao seu modo de vestir e agir. Próximo dele há a Senhora Zimmermann (Cate Blanchett), uma mulher também misteriosa. Juntos, Jonathan, Zimmermam e Lewis forma uma trupe de desajustados, cada um a sua forma, e logo eles percebem suas semelhanças.
Há uma criação de cenário muito cuidadosa e acertada, não só da casa repleta de elementos mágicos que aos poucos se revelam como parte da trama mística, como também da escola onde Lewis estuda, com o menino sendo normalmente alvo de rejeição e bullying. A busca do garoto por aceitação apesar de óbvia faz um enorme sentido dentro da trama proposta.
Apesar da abordagem extremamente infantil, a ideia por trás das ilusões familiares e delírios fantasiosos são levados de um modo corajoso e até arrojado em se tratando de um filme para crianças. O grande problema é a trama que se mune de muitos clichês, e a falta de um vilão realmente assustador. A participação de Kyle MacLachlan é bem sub-aproveitada, e talvez essa seja a única comparação justa deste filme com a saga Harry Potter, pois o Isaac Izard visto aqui é tão ruim quanto os vilões acessórios da saga do bruxinho, apagado e sem muita importância tendo como ponto positivo e único o fato do mal ter se originado e catalisado através da grande guerra mundial que ele travou em solo alemão.
Mesmo com as soluções bastante óbvias do final, O Mistério do Relógio na Parede resgata um tipo de história de aventura infantil, subgênero meio em desuso no cinema dos últimos anos, mas ainda assim o roteiro de Eric Kripke (Supernatural) merecia ser melhor trabalhado, pois os momentos finais soam apressados e mal construídos, apesar de conter parte das boas e melhores piadas do filme.
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Parceria do canal CW, que produz o programa, e Netflix, que distribui internacionalmente, Raio Negro é um seriado focado em um herói negro na DC. Começando pelo primeiro que teve uma revista solo, lá nos idos dos anos setenta, e o saldo se mostra bastante positivo, mesmo que ainda tenha alguns vícios inerentes aos programas do canal, como Arrow e Flash.
A primeira temporada já começa anunciando que o vigilante que dá nome ao seriado está desaparecido há nove anos, e ele prossegue procurado pela polícia da cidade de Freeland. Enquanto isso, é mostrado Jefferson Pierce (Cress Williams) como diretor de uma escola predominantemente formada por alunos e docentes negros. A criação que ele ministra a sua filha caçula Anissa (Nafessa Williams) é bastante rígida. A questão do apreço dele pela ordem prossegue muito viva apesar dele ter aposentado o manto do herói e sua crença de que a violência só gera mais conflito é interrompido por uma ação da polícia, já no piloto, quando ele está levando Anissa e Jennifer (China Anne McClain), sua filha mais velha. Depois de ser encarado como suspeito pela polícia e sem nada a fazer, ele se sente revoltado e ali é a gênese do retorno do herói.
A série comandada por Salim Akil e Mara Brock Akil tem uma complexidade grande nas suas tramas, apesar de abordar isso de modo simples e leve. A persona de Pierce é trágica apesar dele ser encarado como o “Jesus Negro de Freeland”, ao mesmo tempo que ele é benquisto pela sociedade, sua família é dividida. O motivo de seu divórcio com a mãe de suas filhas, Lynn (Christine Adams) não é dito de primeira, mas fica implícito que é graças ao herói, ao mesmo tempo, por mais que o povo clame por justiça, ele ao utilizar o traje do herói que manipula a eletricidade se torna um pária, amado por alguns e ignorado por quem jurou amar pelo resto da vida. A dicotomia é trágica e explorada de forma bastante madura.
Enquanto diretor, Pierce se sente impotente, ao ver a invasão do grupo criminoso auto intitulado os 100. O alvo é uma de suas filhas e após a ação violenta em que os bandidos entram armados dentro do colégio, passando por cima de qualquer autoridade instituída, instalando o mesmo terror que ocorria já nas ruas. Após a ação, ele retoma sua roupa e resgata suas filhas em perigo, mas outras mulheres seguem prisioneiras desses criminosos.
Ainda na trama, o albino Tobias Whale (Marvin Krondon Jones III) é um mafioso poderoso, acompanhado da linda Syonide (Charibi Dean Kriek), mas no passado, ele vivia a margem de seus irmãos, por não ter a pele com a mesma pigmentação dos seus. A partir daí se explica a sua sociopatia e psicopatia, ao mesmo tempo, Lala (William Catlett) lidera os 100, mas convive com os fantasmas das pessoas que assassina. A probabilidade dos personagens soarem caricatos aqui eram enormes, mas isso não ocorre, mesmo quando eles agem como seres maniqueístas não parecem infantis, ao contrario de Martin Proctor, vivido por Gregg Henry, que faz um homem corrupto que repete a todo momento o slogan da campanha de Donald Trump.
Como era de se esperar nenhuma boa ação sai impune e o retorno do herói coincide com (ou é) a causa do aumento da violência na cidade, e o modo como se lida com essa dicotomia é bastante adulto também. Mesmo se utilizando do clichê de apelar para o uso continuo que a juventude faz com uma nova droga – a chamada Luz Verde – não há saídas fáceis e tudo que envolve as figuras dos vilões, ao menos no começo, é muito bem feita.
A identidade visual da série é algo único, e os atores exercem muito bem seus papéis, por mais bobas que sejam alguma situações e as coincidências inerentes a uma série de heróis, ainda assim tudo faz sentido, o espectador compra facilmente o drama de cada uma das pessoas retratadas ao longo dos 13 capítulos.
O texto contém alguns elementos panfletários, mas a mensagem é bastante clara de que a sociedade só será livre de fato quando todos os negros não sejam mais ameaçados pela criminalidade assolada naquele lugar, e somente os próprios poderiam fazer isso, mais ninguém conseguiria, e mesmos as ações do Raio Negro deveriam visar a comunidade inteira, e não só os parentes do seu alter ego.
O seriado surpreende por conseguir trazer todas essas pautas importantes de maneira natural e fluida. Não soa forçado, tudo é levado de maneira bastante orgânica , excetuando as lutas que ainda tem muito de CW e alguns dos trajes dos heróis – ainda assim, são menos artificiais que os programas dos outros canais. Os personagens LGBT não são estereotipados, nem há necessidade de falar de um jeito infantil para o espectador, ao contrário, o texto é franco, e até às insinuações de sexo são menos quadradas que o visto nas séries da Marvel.
Mesmo a questão do mentor é bem construída. O Peter Gambi de James Remar é uma fonte de inspiração para Jeff e para o restante da família, ele protege o pupilo desde muito cedo como um filho, mas ele não é imune a falhas, na verdade é um sujeito vacilante e que paga por seus pecados. Não é o sujeito que leva o personagem negro pela mão e o ensina todo o código ético comum aos heróis clássicos, ele está lá somente para ser consultado e ajudar algumas vezes, não para ser a bússola moral de ninguém.
O episódio final da temporada resgata parte do passado de Jefferson e da ligação que seu falecido pai teve com Gambi, além de fechar os arcos com os vilões e gerar uma finalização bastante adocicada para a família. Raio Negro tem personalidade e identidade, e é bom para o programa que não tenha qualquer ligação com os outros programas do canal, já que claramente não é feito para a mesma faixa etária de público, e contaminar essa série que funciona seria penoso demais. A torcida é para que Salim e Mara Brook Akil tenham liberdade para falar exatamente do que quiserem ao longo das temporadas do programa.
https://www.youtube.com/watch?v=apZ2tRoz5wA
Com a popularização do chamado cinema trash, a Asylum começou a produzir muitos filmes que são intencionalmente vagabundos, com efeitos especiais toscos, roteiros primários e atores que claramente não tem espaço em qualquer produção audiovisual séria, e um dos temas que mais se usa nesse sentido são os tubarões. Sharknado, Mega Shark, Ghost Shark são só alguns dos muitos filmes da famigerada Sharksploitation que essas companhias de cinema sem dinheiro fazem. Eis que a Warner Bros resolveu fazer a sua versão desse fenômeno, com um orçamento graúdo e com uma estrela de nível baixo, Jason Statham, mas sem o mesmo charme das produções mais pueris.
A história começa com Jonas Taylor (Statham), um especialista em resgates submarinos tendo um dia comum, onde tem que salvar uma tripulação embaixo d’água. Essa ação tem baixas, o personagem de Statham deliberadamente deixa alguns homens para trás, a fim de salvar outros, e isso faz com que ele seja encarado como um louco/covarde. Em outro momento, depois da construção de uma enorme base marinha, hipertecnológica e bancada por um bilionário, um outro submarino fica preso por algo misterioso nas águas mais profundas e Taylor é chamado, seduzido pelo fato de sua ex-mulher estar a bordo daquilo.
O diretor John Turteltaub é responsável pelo remake para a TV de A Hora do Rush e também comandou os filmes O Aprendiz de Feiticeiro e Última Viagem a Vegas, todos produtos bem diferentes de um longa de ação escapista, de modo que, sua experiencia pouco auxilia no resultado final. A maior parte do humor presente no roteiro se baseia na simples exposição de corpos e sedução, seja o de Statham sem camisa ou do charme recatado de Bingbing Li. Acaba sendo esse um filme para toda a família, um produto que não incomoda absolutamente ninguém e que tem uma ou outra cena bizarra.
O gore do filme de vez em quanto ousa, em especial quando mostra as dilacerações dos tubarões, mas incrivelmente as vítimas humanas quase nunca tem sangue ou amputamentos. Mesmo os absurdos não são tão gritantes quanto poderiam, mas o que mais irrita Megatubarão é que ele promete que será escrachado, mas não é, se mostrando apenas mais um exemplar contido e preso em uma fórmula hollywoodiana muito cartesiana e que não pratica qualquer diferencial do restante dos filmes de ação recentes.
https://www.youtube.com/watch?v=hgwycIPilI0
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Situado no Harlem, Luke Cage, em sua primeira temporada representa um outro ângulo da parte urbana do universo audiovisual da Marvel Comics, ainda que tenha muitos paralelos com o que já foi visto nas séries do Demolidor e Jessica Jones. Desde o começo, Luke Cage (Mike Colter) é mostrado como um homem humilde, que ganha a vida lavando pratos e trabalhando como subalterno na barbearia de Henry ‘Pop’ Hunter (Frankie Faison). Ele se esconde atrás da aparente normalidade, mas guarda características do chamado exército de um homem só.
A rotina de Luke é a de um homem que tem serviço duplo, um como homem comum que tenta viver seus dias e outra como vigilante, que aos poucos começa a agir mais e mais graças as ações criminosas do bandido Cornell Stokes (Mahershala Ali), apelidado originalmente de Cottonmouth (ou Boca de Algodão, na tradução brasileira).
Cornell é influente na comunidade, mas essa face dele é claramente um despiste para suas ações criminosas, semelhante e muito com o que acontece na máfia ítalo-americana que se instalou em Nova York. Paralelo a isso, Luke também presta serviço a um lugar que serve de fachada para os negócios do vilão, e lá que ele conhece Misty Knight (Simone Missick), uma mulher que depois se revela como policial.
Cage recebe oferta para se tornar segurança do restaurante asiático que salvou mas ele recusa. Esse aliás é só mais um dos estereótipos evocados e desconstruídos pelo showrunner Cheo Hodari Coker e sua equipe de roteiristas. Luke claramente não quer ser mais o leão de chácara bombado. Em outros momentos ocorrem outras desconstruções de arquétipos, como quando Misty tenta se enturmar com os jovens jogando basquete, ou com acréscimo de Rosario Dawson na série onde seu personagem, a Enfermeira Claire começa sendo assaltada assim que retorna ao Harlem, para logo depois ela mudar o paradigma de moça indefesa revidando ao bandido a violência sofrida. A todo momento a narrativa tenta afeiçoar público e personagens, normalmente de modo bastante lento.
A realidade é que apesar do bom começo, o seriado não mantém seu folego. A fórmula se desgasta rápido, e mesmo as coisas que antes funcionavam passam a perder força na metade final. Os dramas se tornam enfadonhos, e o bom vilão que Cornell se tornou é deixado de lado para a entrada de um antagonista não tão carismático quanto o anterior. Cottonmouth tem ligação no passado com Bob, ele tem realmente uma motivação para invadir o cotidiano de Luke, já o outro não, é apenas um personagem caricato, que parece ter sido retirado de um filme de ação genérico dos anos oitenta, o que é uma pena, pois tanto o ator Erik LaRay Harvey quanto seu personagem Kid Cascavel (no original era Willis ‘Diamondback’ Stryker) tinham potencial para desenvolver ainda mais seus dramas.
A parte do passado do vigilante é bem mostrada no início, na cadeia e onde sofre os experimentos que lhe deram as habilidades que possui. Lá, quando ainda era chamado de Carl Lucas ele tinha um visual como a das fases clássicas da sua revista, com cabelo black power e com uma tiara metálica em alguns momentos. O problema é que a tentativa de fazer ele se reabilitar, remontando o momento em que ele ganhou os poderes é bastante fraca e feita de uma maneira estranha. A série recorre a saídas fáceis para resolver os problemas da segunda metade da temporada.
A abordagem da trama é lenta demais, os ganchos nos finais dos episódios ou são fracos ou inexistem e a fórmula demora a engrenar, sem falar que o Luke Cage é um personagem um tanto caricato em sua origem, mas divertido ao extremo, e nessa versão já se mostra como alguém bastante soturno. A fuga da caricatura blackxploitation só acontece quando é conveniente, ao mesmo tempo em que ele não é o “super malandro” ele também é um homem mulherengo, estereotipo que para muitos soa viril, mas também traz conotações pejorativas. O fato de a Netflix Marvel não assumir em seus seriados que aquilo é um produto de super-herói pesa ainda mais nessa versão que Colter assume, por não saber escolher nem como uma exploração dramática, muito menos como produto de adaptação fiel aos quadrinhos.
https://www.youtube.com/watch?v=ytkjQvSk2VA
Dirigido pelo ator franco-israelense Yvan Attal, O Orgulho mostra a história de Nella Salah (Camélia Jordana), uma jovem que cresceu na pequena cidade de Creteil e que vai até uma grande universidade, para se formar na Faculdade de Direito de Paris. Lá ela bate de frente com o polêmico professor Pierre Mazard (Daniel Auteuil), um sujeito duro, grosseiro e que para tentar se redimir, decide ser tutor da mesma, na direção de tentar uma vaga em um concurso.
A partir desse ponto de partida, ambos aprendem um com o outro, em uma jornada em que cada uma das partes é levada a bater de frente com os seus preconceitos O método do docente é pouco ortodoxo, ele faz a garota tentar recitar poemas em pleno metrô para que ela perca a timidez de falar em público e que se perceba melhor no ofício de convencimento de outras pessoas – se ela poderia fazer isso com desconhecidos, certamente ficaria mais fácil convencer um júri de suas intenções e as de seus clientes.
Há um caráter parecido com os produtos enlatados hollywoodianos em que professores motivadores são fonte de inspiração dos seus alunos, como em Sociedade dos Poetas Mortos, embora nesse longa o foco seja em uma faixa etária mais velha que os alunos que seguiam Robin Williams no clássico filme com Ethan Hawke. As questões vividas por Nella no entanto não fogem muito do usual, e de certa forma, emulam os mesmos problemas lugar comum do filme de Peter Weir.
Auteuil consegue convencer bastante como mentor e homem que evolui para muito além de suas próprias ideias, mas Jordana não consegue convencer quem a assiste de que ela é realmente uma pessoa especial e que foge do lugar comum. O desfecho de O Orgulho mostra uma mulher que se percebe cheia de indagações justas e que tem um discurso panfletário na ponta da língua, mas que ainda assim é incapaz de enxergar as nuances e a dificuldade de terceiros em entender o mundo de uma maneira diferente da sua, soando raso dentro das discussões que propõe, não passando além dos clichês e frases de efeito sensacionalista.
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Após alguns episódios fracos, crossovers mal malfadados e um universo expandido que varia entre quadrinhos bem legais e outros tão ruins quanto os últimos filmes, a franquia Predador seguia sem muitas esperanças de que dias melhores viriam, prejudicada até pelo fracasso que foi Prometheus e Alien Covenant, últimos filmes da saga rival do personagem criado por John e Jimm Thomas. Shane Black, que atuou no primeiro longa é o responsável pelo roteiro e direção de O Predador e a mudança nos rumos da história prometiam muito mais que a proposição do artigo no título.
A história de Fred Dekker (Enterprise e Deu a Louca nos Monstros) e Black começa já mostrando o espaço, com uma nave correndo o universo, abrindo um portal e entrando na atmosfera terrestre. Claramente não há uma preocupação em criar suspense nas figuras dos alienígenas caçadores, como houve em praticamente todos os episódios da franquia.
Apesar de perder-se o efeito surpresa, o texto tem um elemento que tenta substituir isso e em alguns momentos acerta bastante na troca, o foco nos desajustados mentalmente mostrado como personagens humanizados, sentimentais e até evoluídos dá um certo ar de maturidade à trama. Essa exploração de temática se bifurca na história que envolve o agente especial Quinn McKenna (Boyd Holbrook), um militar especialista em resgates e execuções, e que tem uma relação conturbada com seu filho, Rory McKenna (Jacob Tremblay), um menino que possui distúrbios psíquicos.
Aqui, cada um dos personagens tem seu espaço, ainda que não tenha grande exploração desses arquétipos. A exposição das histórias dos personagens é mais que suficiente para que o espectador se importe com cada um deles, fato que não acontecia sequer com o grupo de brutamontes do O Predador, de 1987, onde todos (exceto o próprio Shane Black) pareciam saídos de um concurso de Mister Universo. Aqui o foco não é num exército de Rambos e Braddocks sendo desconstruídos, e sim na resolução dos problemas via pessoas em que não há qualquer confiança por parte dos que as cercam ou empregam, e isso faz compensar até a falta de carisma de Holbrook, em especial pelas participações de Thomas Jane, Keegan-Michael Key, Augusto Aguilera. Mesmo o chefe de operações Traeger (Sterling K. Brown), que chefia a organização que “pesquisa” sobre o alien parece também ter algum traço de insanidade, mostrando que a loucura parece ser algo impresso na identidade também dos que comandam os soldados, não importando a patente, quem financia e propaga a guerra.
O problema maior do filme é a utilização máxima de clichês. O conjunto de piadas que está presente em Máquina Mortífera, Beijos e Tiros, Homem de Ferro 3 está lá presente, assim como a química inter-racial entre heróis, em especial na dupla McKenna e Nebraska Williams (um dos cinco loucos, interpretado por Trevante Rhodes) está presente – e também ocorre na dobradinha Jane e Key – além é claro de também exagerar-se demasiado nas frases de efeito e falas descoladas. Parece que todos os personagens passaram por um curso de media training.
Além desse problema de estereótipos, também existe uma utilização péssima da especialista Casey Bracket vivida por Oliva Munn. A personagem é teoricamente especial, inteligente e expert no assunto que toca os vilões inter-planetários, mas o tempo inteiro ela é posta como a personagem que está lá para embelezar o filme, o que é bizarro, pois isso jamais foi necessário dentro dos outros três capítulos, mesmo com Alice Braga em Predadores. Há uma jogada visual legal, pois em muitos momentos Munn faz lembrar Elpidia Carrillo, a Anna do filme original, mas sua função é bem distante dessa, já que ela é a pessoa responsável por preservar a ciência toda que envolve o contato imediato com essa criatura letal, mas ao menos nesse ponto, o filme não leva quase nada a sério, se assemelhando a filmes de ação descompromissados, como o recente Mega Tubarão, o que é péssimo, pois Predador jamais foi somente um exemplar de filme de ação, sempre discutiu mais, e só colocar uma nova versão bombada do personagem é muito pouco.
Black traz um filme divertido, engraçado e com um caráter bem definido, de muita diversão, onde o escapismo supera demais a desconstrução de gênero. A reinvenção dele é mais acertada que Predador 2: A Caçada Continua, em especial por não apelar demais para estereótipos estrangeiros, embora nesse não haja uma ironia e crítica social como no longa de Stephen Hopkins. O diferencial dele é a química dos personagens e a valorização dos flagelados, deixando espaço para possíveis continuações, onde claramente haverá um upgrade enorme das forças de defesa da Terra.
Sam Liu, acostumado com as animações da DC Comics, deu à luz ao crossover sempre imaginado por fãs dos quadrinhos da editora, Liga da Justiça e os Jovens Titãs e começa seu drama mostrando a Liga enfrentando outro super grupo, a Legião do Mal. A luta termina com o demônio Azarath se apossando do corpo do Mago do Tempo, sem maiores explicações ou justificativas, e o vilão só perece graças a uma tática desobediente de Damian.
Robin é repreendido por seu mentor e pai e quando ele vai de encontro ao grupo que normalmente organiza os sidekicks de herói – Os Titãs – ele prossegue tendo problemas com as lideranças estabelecidas, em especial, Estelar. O conjunto tem também os jovens Mutano, Ravena, Bezouro Azul (Jaymito) e sofre algumas dificuldades de interação, basicamente emulando alguns produtos recentes relacionados aos X-Men, lembrando em alguns dramas X-Men Evolution, retribuindo de certa forma a referência que o grupo de mutantes teve desses vigilantes.
Em alguns pontos, o filme de 79 minutos apela para clichês terríveis, como uma trilha repleta de músicas melosas feitas para adolescentes e competições entre os participantes do grupo em vídeo games de dança. A tentativa de soar Young Adult é meio banal, e piora demais quando no meio do filme descobrem a ligação de Ravena com Azarath.
Desse momento em diante a obra tem altos e baixos, perde bastante em ritmo, com lutas um pouco sem sentido e conflitos sem muita graça. Quando finalmente ocorre o embate com a Liga o quadro muda ligeiramente e o primeiro herói que os sidekicks resgatam do transe demoníaco é o Cyborg, em uma referencia obvia a sua participação nas histórias clássicas do grupo no passado, mas ainda assim é muito pouco.
Existe uma tentativa de forçar o personagem meio humano, meio robótico no grupo, assim como a figura de Asa Noturna, em uma das cenas pré-créditos finais que mostra uma interação entre os heróis, mas ainda assim é pouco. Essa interação deveria ser consertada em Contrato de Judas, próxima animação de Sam Liu com os Titãs, agora em história solo. Como crossover o filme falha por não ter realmente uma tensão entre os heróis que rivalizam, como filme falta uma ameaça realmente real e que não apele para lugares comuns como parentescos de personagens. Falta alma, algo além de uma história genérica com os heróis mais famosos da editora.
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Focado inicialmente no Reverendo Dave (David A.R. White), Deus Não Está Morto: Uma Luz na Escuridão é mais um panfleto propagandista gospel, e mira na trajetória do pastor que se envolve em um incidente estranho com a sua igreja, um incêndio que faz vitimar um amigo seu. Tal qual nos outros filmes, uma perseguição começa e a universidade que detêm o campus onde está a igreja exige que os religiosos deixem o lugar.
Michael Manson é o diretor desse capítulo e este é seu primeiro longa metragem. Tal qual os outros filmes, esse também possui um roteiro fraco, repleto de lugar comum e discurso vitimista bobo, com situações esdrúxulas de perseguição acontecendo com o religioso, unicamente porque ele se posiciona de maneira veemente como um homem de deus.
Dessa vez o ataque falacioso é sobre os pretensos justiceiros sociais e pregadores da tolerância aos diferentes, o texto generaliza o comportamento de universidades e instituições de ensinos que aparentemente não dão chance a Dave de permanecer fazendo o trabalho que está acostumado a fazer, obviamente por conta de uma suposta perseguição religiosa.
White não é bom ator, longe disso. Toda vez que ele contracena com qualquer outro intérprete se nota o quão incapaz de representar qualquer sentimento ele é, e isso piora demais quando aparece a figura de Meg Harvey, feita por Jennifer Taylor, em cena basicamente para representar o fruto proibido, a mulher inalcançável e da qual ele terá que fugir pelos extensos 106 minutos de duração.
Normalmente os defensores desse filão de cinema são fundamentalistas religiosos ardorosos, que confundem as críticas ao tipo de dramaturgia implantada a um julgar da fé e essa associação não poderia ser mais injusta. A série de filmes Deus Não Está Morto é um desserviço inclusive para os adeptos a fé cristã e crentes em Jesus Cristo pois os mostra como pessoas irracionais, intransigentes, ilógicas e incapazes de dialogar com qualquer pessoa que fuja ligeiramente da seara que essas pessoas tem algum domínio. Ser representado assim nada tem a ver com ser humilde e forte na fé, tem a ver sim com ser teimoso.
Não há nessa trilogia nenhuma discussão que vise desmantelar o status quo minimamente, ou qualquer fala que favoreça as minorias que o próprio Cristo defendia, tampouco há preocupação em garantir direitos aos pobres, aos flagelados, as viúvas, aos órfãos, mesmo que esses, segundo a Bíblia, tenham algumas prioridades sobre os demais, mesmo que segundo o apóstolo Paulo na segunda carta a Timóteo esteja grafada a necessidade de se cuidar desses. A sensação de perseguição aos cristãos além de deflagar um discurso extremamente falho e alienatório também denuncia o quão egoísta pode ser a lógica de alguns, que se ocupam demais protegendo suas propriedades e privilégios, como se realmente alguém estivesse tentando tirá-los.
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O cinema de Roberto Santucci normalmente é associado as famigeradas Globochanchadas, comédias de humor esquemáticas e repletas de piadas baseadas em bordões. Foi assim em Candidato Honesto, de 2014, onde Leandro Hassum fazia o papel de João Ernesto Ribamar, um homem de origem humilde que ascendeu ao panteão político de Brasília, como deputado e depois como candidato a presidência.
À procura de sucessos e nadando contra a corrente da decadência recente aos filmes de comédia escrachada nacionais, Candidato Honesto 2 retorna com o mesmo protagonista, mesmo diretor, mesmo escritor (Paulo Cursino) e com um personagem principal mais sincero, moderado e boca suja, uma vez que toda frase sua parece ter ao menos um “porra” no vocábulo. Não há qualquer moralismo nessa constatação, e sim a percepção de que o filme é extremamente refém dessa necessidade de parecer adulto via linguagem torpe.
O restante do cenário é raso e ingênuo. João Ernesto se declara sempre para uma mulher, uma jornalista séria chamada Amanda, vivida por Rosana Mulholand, que traz uma voz tão mecânica que aqui mais ter sido dublada, e introduzida de maneira gratuita pelo roteiro. Além desse novo elemento romântico, há também uma sedução ao político recém solto, de um partido claramente corrupto, comandado por Ivan Piris (Cassio Pandolph), obviamente uma referência ao presidente à época, Michel Temer.
Um dos poucos momentos realmente engraçados é a participação de Piris, ainda que essa comédia seja baseada em argumento tão lugares comuns que mesmo quem se interessa zero por política sabe que Temer é comparado a Vampiro e a figura satânica, ou seja, o ponto mais positivo do longa é óbvio demais. Outro momento que fez alguns espectadores rirem é a imitação de Dilma Rousseff que Mila Ribeiro faz, e impressiona, mas até mesmo os discursos mais difusos da presidenta deposta soam lugar comum hoje em dia, piadas que em 2016 já estavam superadas demais. Mesmo a crítica aos políticos de extrema direita como Jair Bolsonaro é extremamente diluída e sua postura é até normalizada de certa forma, ainda que se leve em conta que Bolsonaro não está sozinho no congresso.
O roteiro de Cursino não ousa nada, aposta em clichês de falas dignas de comentaristas revoltados das redes sociais e analfabetos políticos. A revolta dessas pessoas é absolutamente comum e válida, o que claramente não é válido é a mensagem ao final de que a política não possui qualquer chance de redenção e que todos que estão ali estão somente para fazer dinheiro, esquemas, etc. Mesmo que isso represente a maior parte da classe política eleita, O Candidato Honesto 2 generaliza os problemas sociais agravados pela votação em relação as reformas sancionadas nos últimos dois anos como se não tivessem nenhuma influência na vida do povo, sobretudo dos mais pobres.
O filme que tenciona ser uma diversão para o público médio mas que afaga somente o pensamento das elites, dos patrões e de quem já tem uma vida mais ou menos garantida, e que erra não só no seu texto, mas também em um humor de difícil identificação e com atores que claramente não estão afiados ou em um desempenho minimamente bem, e isso inclui Hassum, que não passa do mediano mesmo em seus melhores momentos. Para ser algo relevante é preciso mais do que uma colcha de retalhos repleta de fatos políticos recentes.
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De Marcus Faustini, Vende-se Esta Moto é um filme barato e bastante simples. Na trama, somos apresentado ao casal formado por Xéu (João Pedro Zappa) e Lidiane (Mariane Cortines) no início de uma gravidez, com os personagens fazendo planos para morar juntos, mudar de trabalho, e claro, vender a moto de Xéu, seu bem a tanto tempo que mais funciona como amiga.
Todo o roteiro gira em torno do casal. Eventualmente um ou outro personagem periférico aparece e age como fator de mudança em suas rotinas, é como se houvesse uma linha guia, com os dois jovens pais sendo cortada sempre por alguém, seja por Quitta (Priscila Lima), uma conhecida dos dois que nutre tesão por ambos, ou por amigos e parentes mais próximos.
O fato de ser uma obra com núcleo bem definido causa um estranhamento no início, mas logo se torna algo comum. As relações envolvendo Lidiane, seja do passado ou do presente, são registradas de modo muito singelo nos detalhes que Faustini grafa, como fica evidente em detalhes, nas mãos dos personagens que claramente querem se reencontrar e evitam o magnetismo que fica evidente mesmo ao menos observador dos espectadores.
Mesmo com o advento de alguns triângulos amorosos e participações especiais de atores como Guti Fraga, Vinicius de Oliveira e Sivlio Guindane, é em cima de Zappa e Cortines que se estabelece a maior sensação de vida, sentimento, sacrifício e emoção de Vende-Se Esta Moto. O diretor consegue equilibrar muitíssimo bem o desempenho de seus atores e propõe momentos de ruptura com suas próprias crenças e com a concepção do que é o ideal quando se é um casal. As quebras de paradigmas e a complexidade do texto são apresentadas de forma bastante natural e o texto tem muito mais a dizer do que a maior parte dos filmes naturalistas que normalmente correm os festivais de cinema nacional, O longa de Faustini prova que ele é uma pequena pérola, uma joia rara entre os filmes feitos no Rio de Janeiro.
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Marvin trata de pessoas comuns, usando o exemplo do seu personagem-título, um jovem que nasce dentro de uma família bastante pobre, moradora de uma aldeia no interior da França e beneficiária de auxílios do governo para subsistir. Nesse ínterim, ele começa a dar vazão aos seus sentimentos e desejos por pessoas do mesmo sexo, já criança e tem que lidar com a culpa proveniente do conservadorismo muito comum entre as pessoas mais simples, tendo de driblar o complexo processo da puberdade e seus demônios internos, além dos olhares e violências infelizmente comuns a uma sociedade retrograda como a da atualidade.
O filme de Anne Fontaine – de Agnus Dei e Coco Antes de Channel – não poupa seu espectador dos abusos que ocorrem com Marvin e com os que o orbitam, sem evidentemente ser explícito com relação aos abusos, agressões e assédios. O roteiro é inteligente e consegue transitar bem entre a infância tímida, onde o protagonista é alvo de uma série de preconceitos e rejeições, até a puberdade, onde ele conhece o teatro e sua vocação artística.
A segunda metade mostrando a vida mais madura do personagem perde um pouco de fôlego e força, dependendo demais do intérprete do personagem mais velho, Finnegan Oldfield. Apesar do desempenho sensacional do ator, a maior parte das situações que ocorrem nesse momento guardam poucas ou nenhuma emoção realmente destacável.
Ao final há um pouco de resgate do caráter inicial de Marvin, com o personagem conversando com seu pai no novo ambiente em que vive, sob uma nova perspectiva, e por ter conseguido o que sempre buscou há um novo encarar da situação vista pelo seu parente. O roteiro aqui usa da obviedade para fazer duras críticas a hipocrisia vigente no olhar comum da população e na criação de expectativas que normalmente ocorrem entre gerações.
James Wan ajudou a pavimentar algumas franquias de filmes de terror dos últimos anos, desde os intermináveis Jogos Mortais, iniciado em 2004, até as séries Sobrenatural e Invocação do Mal. Depois de dois filmes de Anabelle, spin off de Invocação do Mal, finalmente chega A Freira, filme de Corin Hardy extremamente dependente de Invocação do Mal 2, não só por mostrar um dos monstros apresentados nesse capítulo dois, mas por ter sua introdução e desfecho fortemente ligado ao filme de Wan.
Na trama, uma abadia na Romênia tem uma série de eventos estranhos que faz o Vaticano tentar entender o que lá acontece e descobrir se aquele ainda é um lugar sagrado. Para investigar o caso, enviam o Padre Burke (Demian Bichir) e a noviça Irene (Taissa Farmiga), o primeiro por ser especialista em exorcismos, a segunda por um motivo estranho, que não é explicado ou minimamente aprofundado além da sua óbvia rebeldia em comparação com as outras noviças, lá eles encontram o franco-canadense Frenchie (Jonas Bloquet), um homem que levava mantimentos para a abadia e encontra uma freira enforcada.
O horror que Hardy impõe se vale muito da escuridão, não só dos cenários dentro da tal igreja mas também da questão maniqueísta religiosa da eterna briga entre as forças demoníacas e os soldados do cristianismo. Apesar da premissa bem pensada de colocar como figura maléfica como um representação do bem, o filme acaba caindo num clichê, sendo execução tão porca que se torna óbvia na maioria das suas manifestações, tanto que não há tantos jumpscares quanto nos Invocações do Mal, e quando eles ocorrem, pouco assustam.
O roteiro tenta se levar a sério demais e não consegue trazer empatio nem com o trio de protagonistas. A rebeldia de Irene não é explorada além das primeiras cenas, os traumas de Burke também repercutem pouco além das manifestações de visões dos que ele já exorcizou – fato esse que diminui inclusive a capacidade premonitória de Irene, que segundo o texto, possui algo realmente especial e capaz de ver mais que os outros, ainda que TODOS os personagens vejam em algum momento algo espiritual materializado – e até o alivio cômico de Frenchie não funciona 100% das vezes, embora seja ele o mais complexo dos personagens. Se isso não fosse o bastante, a criatura enfrentada pelos heróis é só um mal inexplicável, não há qualquer menção a se estudar o que fez aquela criatura estar ali, fora uma explicação bastante genérica e lugar comum, tampouco há um mergulhar mais fundo no motivo que faz a manifestação maligna assumir a figura de uma irmã de fé que fez os votos, tudo ali é absolutamente gratuito e em última análise, denigre até a saga original como um todo dada a total falta de desenvolvimento.
A Freira, tal qual Anabelle de John R. Leonetti, promete ser ousado, mas fora os cenários magníficos, não há nada que fuja do usual seja em termos dramáticos, técnicos ou de desempenho do elenco, o que é uma lástima, visto que a atmosfera parecia conter algo diferenciado desde o seu início.
Já Vimos Esse Filme é a versão de Boca Migotto para o golpe parlamentar aplicado contra oo mandato da Presidenta da República Dilma Rousseff. Diferente de O Processo, de Maria Augusta Ramos, esse é um documentário mais formulaico e começa com depoimentos, desde gente mais simples como o pregador que abre o longa, além de falas de acadêmicos como Francisco Marshall, Bernardo Lucero, entre outros.
O lado do filme é facilmente visto. Na boca dos que falam a respeito do quarto governo presidencial com o Partido dos Trabalhadores no poder, há tanto o assumir da negligência quanto ao combate a corrupção que ocorre em Brasilia, e também dentro do próprio partido. Mesmo as pessoas comuns e mais simples que são enquadrados pela câmera tem um olhar crítico sobre o modo de governar petista, em especial aqueles que acham que os dividendos vindo da exploração do petróleo e do pré-sal devem ser divididos com o restante do povo e não loteado para empresas estrangeiras, até os que engrossam o discurso direitista da saída de Rousseff, que vociferam que as pedaladas fiscais justificam o impedimento do exercer da candidatura, assim como flagra boa parte da paranoia desses mesmos manifestantes, que acreditam piamente que a luta de classes que ocorre no Brasil é culpa de um partido, e não da desbalanceada diferença de renda entre os poucos ricos e os muito pobres e consequente dificuldade de conquista de direitos para esses últimos.
O desenho politico histórico dos golpes que foram dados (ou tentados) no Brasil são muito bem explicitados, explicados de maneira didática, em especial por Lucero, que explica como a morte de Getúlio Vargas desacelerou a tentativa dos militares de tomar o poder e como ocorreu com Jango, afilhado politico de Vargas no anos sessenta.
No entanto, a vazão ao discurso de que as manifestações de 2013 tiveram como legado apenas os movimentos contra o PT, pró-golpe, semelhantes a Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade que ocorreu pré-intervenção de 1964 é extremamente equivocada, mesmo porque foi nessa época que surgiram coletivos como a Mídia Ninja e tantos outros, não somente os grupos como o MBL. Ainda assim, o fato de se dar voz a discursos diferentes mostra um caráter bastante universal, mesmo que claramente pese mais para o lado que acusa o processo todo como um golpe e não como um impeachment legítimo.
O documentário se dedica a grifar o ciclo repetitivo, e mostrar o quão frágil é a democracia brasileira, argumentando bem sobre os pequenos ciclos em que o Estado Democrático de Direito segue intacto. Apesar de apelar para algumas obviedades, Migotto acerta demais ao ir na contramão do que a imprensa grande faz, dando muito mais voz aos opositores do governo que estavam no poder à época do que normalmente os granes jornais e redes de televisão davam aos que consideravam injusto e arbitrário todo o processo politico que culminou na subida de Michel Temer ao posto de presidente do Brasil.